segunda-feira, 3 de março de 2008

O Meu Pé de Laranja Lima

Hoje quero falar sobre um livro, o primeiro livro que eu li, “O Meu Pé de Laranja Lima”, de José Mauro de Vasconcelos. Na época esse livro me emocionou bastante, e hoje em dia não é diferente. Ontem mesmo chorei feito criança ao terminar de (re)ler... O livro é sobre a história de Zezé, um menino de 5 anos, pobre, peralta e muito inteligente, que descobre desde cedo as mazelas e os valores mais importantes da vida, como o mais importante deles, a amizade.

Portuga !
- Hum…
- Você está dormindo?
- Ainda não.
- É verdade aquilo que você disse a seu Ladislau, na confeitaria?
- Ora, tantas coisas eu tenho dito a seu Ladislau na confeitaria.
- A meu respeito. Eu ouvi. Do carro eu ouvi.
- E o que ouviste?
- Que você gosta muito de mim?
- Está claro que gosto de ti. Que diferença faz?
Aí eu me virei, sem me libertar dos seus braços.
Fitei os seus olhos semicerrados. Seu rosto assim ficava mais gordo e mais parecido com um rei.
- Não, mas eu quero saber com força se você gosta mesmo de mim?
- Claro, bobinho.
E me apertou para comprovar o que dissera.
- Eu estive pensando seriamente. Você só tem aquela filha do Encantado, não é?
- É
- Você mora sozinho naquela casa com as duas gaiolas de passarinho, não é?
- É
- Você disse que não tem netos, não é?
- É
- E você disse que gosta de mim, não é?
- É
- Então porque você não vai lá em casa e não pede para papai me dar para você?
Ele ficou tão emocionado que se sentou e me segurou o rosto com as duas mãos.
- Tu gostarias de ser meu filhinho?
- A gente não pode escolher o pai antes de nascer. Mas se pudesse eu queria você.
- Verdade, Pirralho?
- Posso até jurar. Depois, eu seria uma pessoa a menos para comer. Eu prometo que não falo mais palavrões, nem bunda mesmo. Eu engraxo seus sapatos, trato dos passarinhos na gaiola. Fico bonzinho de todo. Não vai haver melhor aluno na escola. Faço tudo, tudo direitinho.
Ele nem sabia o que responder.
- Lá em casa todo mundo morre de alegria se eu for dado. Vai ser um alívio. Eu tenho uma irmã entre Glória e António que foi dada pro Norte. Foi viver com uma prima, que é rica, para estudar e ser gente…
O silêncio continuava e os seus olhos estavam cheios de lágrimas.
- Se não quiserem dar, você me compra. Papai está sem dinheiro nenhum. Garanto que ele me vende…
Como ele não respondesse eu voltei à antiga posição e ele também.
- Sabe, Portuga, se você não me quer, não faz mal. Eu não queria fazer você chorar…
Ele alisou demoradamente os meus cabelos.
- Não é isso, meu filho. Não é isso. A vida a gente não resolve assim de uma só manobra. Mas eu vou te propor uma coisa. Não poderei tirar-te dos teus pais, nem da tua casa. Se bem que gostasse muito de o fazer. Isso não é direito. Mas de agora em diante, eu que gostava de ti como se fosses um filhinho, vou-te tratar como se fosses mesmo meu filho.
- Verdade Portuga?
- Posso até jurar, como tu sempre dizes.
Fiz uma coisa que raramente fazia ou gostava de fazer com os meus familiares. Beijei o seu rosto gordo e bondoso…

2 comentários:

Gustavo Martins disse...

Uau! Elocubrações literárias! Adoramos!

Sobrenome polaco no litoral norte de SC? Intrigante.

Visite a gente!

Abraço!

J.M. disse...

Preciso confessar que nunca tinha lido, embora sempre ouvisse falar. Tenho, agora, a certeza de que preciso ler.
Obrigado!
Um abraço.