Para matar-me, e novas esquivanças;
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.
Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.
Mas, conquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê;
Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como, e dói não sei por quê.
Luís de Camões
2 comentários:
Coisa linda é "não poder haver desgosto onde esperança falte", já que se não se espera, não há ilusão; se não há ilusão, não há des-ilusão. Entretanto, é lá que, para o poeta, se esconde o amor, mal que mata e não se vê. A força deste oxímoro é exuberante. A chave de ouro é maravilhosa. Das coisas mais belas já escritas em língua portuguesa: forma e fundo perfeitos.
Abração!
Belíssimo. Camões hoje e sempre: eterno.
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