segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

"Ui! Aquela gorda?"

Ouvi essa frase quando tinha 11 anos de idade. Ela saiu da boca do menino que eu gostava. Uma amiga foi contar para ele que eu gostava dele. Lembro que fiquei de longe, com frio na barriga e ansiosa pela reação dele. Até então jamais poderia imaginar que a reação dele ou de qualquer outro menino pudesse ser essa. No mínimo imaginava que ele dissesse que não gostava de mim. Mas a falta de reciprocidade dele veio acompanhada dessa frase: "Ui! Aquela gorda?"

Ele disse isso com tanta raiva, tanto nojo... Que mesmo de longe, eu ouvi. E quase 30 anos depois, ainda continuo ouvindo essa frase, em alto e bom som. 

Cada vez que me apaixono, me iludo e sou ignorada ou rejeitada por alguém, é essa a frase que me vem à cabeça e me dilacera o coração. "Ui! Aquela gorda?"

E tudo aquilo que eu sei que sou, todas as minhas qualidades se anulam diante da lembrança dessa frase.

E sabem de uma coisa? Eu nem era gorda nessa idade. Eu era apenas uma pré adolescente, com corpo ainda de criança, crescendo, me descobrindo...

Ui! Aquela gorda?

Não! Apenas uma menina.



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