segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Eu quero sempre mais!















"Eu sempre quero mais que ontem
Eu sempre quero mais que hoje
Eu sempre quero mais do que eu posso ter

Mais do que palavras
Mais do que promessas
Mais do que o mundo pode me dar"


Capital Inicial

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Eu não sei se me apaixonei por você, pela idéia de um relacionamento com alguém assim como você, ou pela forma como eu me sinto quando estou com você. Não é fácil bancar a indiferente quando na verdade te desejo com todo o meu coração.



"Let me hold you
For the last time
It’s the last chance to feel again..."

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Chega logo MiguElvis!!!

Se a Dra. Repolha não vai até a civilização, a civilização vem até a Dra. Repolha. Os próximos dias prometem ser cheios de boas conversas, muita farra e rock'n'roll. Os dias de clausura e solidão estão chegando ao fim.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

i like my body when it is with your

i like my body when it is with your body.
It is so quite a new thing.
Muscles better and nerves more.
i like your body. i like what it does,
i like its hows. i like to feel the spine
of your body and its bones, and the trembling
-firm-smooth ness and which i will
again and again and again
kiss, i like kissing this and that of you,
i like, slowly stroking the, shocking fuzz
of your electric fur, and what-is-it comes
over parting flesh . . . . and eyes big love-crumbs,

and possibly i like the thrill

of under me you quite so new

e.e. cummings

Hoje é aniversário do blog. Dois aninhos, vivaaaaaaaaa!!!




terça-feira, 20 de outubro de 2009

"Ketut disse que podia responder a minha pergunta com uma imagem. Mostrou-me um esboço que havia desenhado certa vez durante a meditação. Era uma figura humana andrógina, de pé, com as mãos unidas em prece. Mas essa figura tinha quatro pernas e não tinha cabeça. Onde deveria estar a cabeça, havia apenas um tufo selvagem de samambaias e flores. Em cima do coração estava desenhado um pequeno rosto sorridente.
-Para encontrar o equilibrio que você busca - disse Ketut - é nisso que você tem de se tranformar. Precisa manter os pés plantados com tanta firmeza na terra que é como se tivesse quatro pernas, em vez de duas. Assim, você consegue permanecer no mundo. Mas você tem de parar de ver o mundo através da sua cabeça. Em vez disso, precisa olhar pelo coração. Assim você vai conhecer Deus."

Trecho do livro: Comer, Rezar, Amar - Elizabeth Gilbert.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Para um menino com uma flor, de Tati Bernardi

Acabo de chegar em casa e ver tudo diferente. Ainda estou fechando os olhos e tentando encontrar a parte mais quente das suas costas. Ainda estou com este riso bobo na cara, matando a saudade de ter quinze anos e uma vida linda pela frente.

Pode ser mesmo que isso passe, pode ser que amanhã eu acorde e você tenha ido embora. Ainda assim, ainda que amanhã chegue para estragar tudo, poder chegar em casa e ver tudo diferente já são milhões de quilômetros rodados. Zilhões.

Você não sabe, nem sonha, mas você acaba de zerar minha vida. Minha vida era acordar todos os dias e sentir aquele gosto de merda na boca. Minha vida era vestir a armadura e relembrar com dor pela milésima vez todos os últimos podres de todas as pessoas podres que passaram ultimamente pela minha vida. Você acaba de zerar tudo. Com a parte mais quente das suas costas, com o seu medo de beijo na orelha e com o seu jeito de se desculpar por falar demais e balançar os pés, você acaba de me salvar.

Este texto é pra te falar uma coisa boba. É pra te pedir que não tenha medo de mim. Sabe esses textos que eu publico aqui falando putaria? Sabe esses textos falando que eu sei disso e sei daquilo? Eu não sei de nada. Eu só queria ser salva das pedras, eu só queria aprender a pegar carona nas ondas. Eu só queria que isso que eu tô sentindo agora durasse mais de uma semana. Eu só queria poder chegar em casa e ver tudo diferente. Ver tudo bonito. Ver tudo como de fato é. E você salvou minha vida. O mundo está lindo. Não tenha medo de mim.

Eu só queria que esta minha vontade de perdoar o mundo durasse. Hoje eu não odiei o Bradesco, a Vivo, meus pais, o IPTU, a mulher que divide a vaga do prédio comigo, o motoqueiro que me manda ir mais para o lado, a garota que fala caipira, aquele cara que você sabe quem é. Hoje eu não odiei nada nem ninguém. Eu apenas fiquei lembrando, a cada segundo, que você se desesperou pra encontrar meu brinco de coração. Você quis encontrar meu coração pequenininho no escuro. E você encontrou. E você salvou meu dia, minha semana. E salvar meu dia já são zilhões de quilômetros. Você é meu herói.

Não tenha medo deste texto. Não tenha medo da quantidade absurda de carinho que eu quero te fazer. Nem de eu ser assim e falar tudo na lata. Nem de eu não fazer charme quando simplesmente não tem como fazer. Nem de eu te beijar como se a gente tivesse acabado de descobrir o beijo. Nem de eu ter ido dormir com dor na alma o fim de semana inteiro por não saber o quanto posso te tocar. Não tenha medo de eu ser assim tão agora. Nem desse meu agora ser do tamanho do mundo.

Eu estou tão cansada de assustar as pessoas. E de ser o máximo por tão pouco tempo. E de entregar tanta alma de bandeja pra tanta gente que não quer ou não sabe querer. Mas hoje eu não odeio nenhuma dessas pessoas. E hoje eu não me odeio. Hoje eu só fecho os olhos e lembro de você me pedindo sem graça para eu não deixar ninguém ocupar o lugar da minha canga. Tudo o que eu mais queria, por trás de todos esses meus textos tão modernos, sarcásticos e malandros, era de alguém que me pedisse para guardar o lugar. Tá guardado. O da canga e de todo o resto.

Talvez você pense que não merece este texto. Há quanto tempo mesmo você me conhece? Algumas horas? Mas você merece sim. Hoje, depois de muito tempo, eu acordei e não me olhei no espelho. Eu não precisei confirmar se eu era bonita. Eu acordei tendo certeza.

Não tenha medo. Eu sou só uma menina boba com medo da vida. Mas hoje eu não tenho medo de nada, eu apenas fecho os olhos e lembro de você me dando aquela flor velha, fazendo piada ruim às sete da manhã, me lendo no escuro mesmo com dor de cabeça.

Eu posso sentir isso de novo. Que bom. Achei que eu ia ser esperta pra sempre, mas para a minha grande alegria estou me sentindo uma idiota. Sabe o que eu fiz hoje? As pazes com o Bob Marley, com o Bob Dylan e até com o ovomaltine do Bob's. As pazes com os casais que se balançam abraçados enquanto não esperam nada, as pazes com as pessoas que não sabem ver o que eu vejo. E eu só vejo você me ensinando a dar estrela. Eu só vejo você enchendo minha vida de estrelas. Se você puder, não tenha medo. Eu sou só uma menina que voltou a ver estrelas. E que repete, sem medo e sem fim, a palavra estrela no mesmo parágrafo. Estrela, estrela, estrela. Zilhões de vezes.

Aprovadíssima!!!

No dia 17 de setembro de 2009 fiz a minha primeira aula de volante. Nunca na minha vida havia ligado um carro. Nunca! Mas papai do céu foi bonzinho comigo, e colocou no meu caminho um instrutor nota 10, um não, dois, fiz aulas de moto também. Todas aquelas neuras, dúvidas e medos foram por água abaixo. Eu estava segura. Eles acreditavam em mim... Foi quase um mês de maratona, aulas à tarde, à noite, nos sábados de manhã... Mas nem tudo são flores, teve vídeo cassetada também, lá pela décima aula de moto "tinha um muro no meio do caminho, no meio do caminho tinha um muro", e quase que fui fazer companhia para São Pedro. No mais, tudo ótimo, até chegar o diz da maldita baliza, que me tirou o sono durante um final de semana inteiro... Mas, a loira aqui, pegou o jeito, mandou super bem, até dirigiu na BR à 80km/h, quinta marcha, uhú! E hoje não poderia ter sido diferente, aprovadíssima na prova prática. E daqui uns 30 dias, estarei com a tão sonhada habilitação em mãos. Depois dessa, ninguém segura a loira hein!? Se eu já sonhava com os pés no chão, imagine agora de quatro rodas?

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Olha o diabinho aí gente!!!

Ele soprou novamente no meu ouvido.
Me instigou a cair em tentação...
- Freeeeeeeeeeeeeia que vai bater Fernanda! Gritou o anjinho.
Foi quaaaaaaaaase!

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Moulin Rouge - Amor em Vermelho


Não acredito que ainda não tenha falado sobre esse filme aqui. Moulin é um dos filmes da minha vida. Posso dizer com certeza que ele é um dos filmes da minha lista Top 10. E não é só por causa do maravilhoso e visionário diretor Baz Luhrmann, pelo talento e beleza de Nicole Kidman e Ewan McGregor, pelas músicas, ou pela temática do filme... Mas é por tudo isso, mais o real significado pessoal que este filme tem para mim. É um filme que marcou uma fase incrível da minha vida, de encontros e fortalecimento dos meus ideais. Ontem matei a saudade, assisti novamente e me emocionei como de costume, e resolvi então dividir um pouco dele com vocês.

"Voulez-vous coucher avec moi, ce soir"


"The French are glad to die for love, they delight in fighting duels, but I prefer a man who lives, and gives expensive jewels! - Os franceses se contentam em morrer por amor Sempre brigando Mas eu prefiro um homem que viva E me dê jóias caras!"



"So excuse me forgetting, but these things I do, you see I've forgotten, if they're green or they're blue, anyway, the thing is, what I really mean, you got the sweetest eyes I've ever seen - Então me perdoe por ter esquecido, mas essas coisas eu faço, como você vê eu esqueci se eles são verdes ou azuis. De qualquer modo, o fato é que o que eu realemente quero dizer é, seus olhos são os mais doces que já vi"


"How wonderful life is... Now you're in the world"

"And there's no mountain too high, no river too wide, sing out this song and I'll be there by your side. Storm clouds may gather, and stars may collide, but I love you until the end of time - Não há montanha tão alta, nem rio tão extenso. Cante esta canção e eu estarei ao seu lado. Tempestades podem se formar e estrelas podem colidir, mas eu te amo, até o fim dos tempos."

sábado, 10 de outubro de 2009

"Não sou capaz de controlar meu próprio coração"

Canta Alexandre Pires, canta:

"Será, que a gente entrega o coração? Sei lá! Querendo fugir da solidão. Sem pensar nas consequências que o amor pode causar, ao me entregar assim, eu me feri, me machuquei. Jurei! Não mais me dar como eu me dei. Mas não sou capaz de controlar meu próprio coração, e outra paixão eu vou procurar..."

Eu e Acaso, Acaso e Eu

Na mesma sintonia (always). Confira aqui!

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Diabinho Vs. Anjinho




Do lado esquerdo, ao pé do meu ouvido, eis o Diabinho, muito astuto, querendo me conduzir para o mau (porém delicioso) caminho. Do lado direito, o Anjinho, apavoraaaaado, dizendo que eu tenho que resistir as tentações, ser uma boa menina, e blá blá blá. Querem saber de uma coisa? Dei férias para o Anjinho, e promovi o Diabinho. Uhú!

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Sobre olhares, sorrisos e sabores...

O olhar dele era profundamente desconcertante. E o sorriso que o acompanhava era espontâneo demais para ser inocente. Alice sentia seu corpo tremer toda vez que ele se aproximava. Ele parecia ser doce, e também picante. Qual seria o sabor dele? Alice estava disposta a provar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Aqui mora um coração

Às vezes é apenas simpatia e gentileza. Nada além! Porém é o que basta para despertar um coração. Então ele se enche de alegria e inspiração. E até um dia nublado se enche de cor...

"My stomach's filled with the butterflies... and it's alright"



"Since the moment I spotted you
Like walking round with little wings on my shoes
My stomach's filled with the butterflies... and it's alright
Bouncing round from cloud to cloud
I got the feeling like I'm never going to come down
If I said I didn't like it then you know I'd lied "

domingo, 4 de outubro de 2009

Extraterrestres dominarão o planeta!

Tive um sonho mega estranho, super maluco mesmo. Eu era acusada de comandar um grupo de malucos que previam a chegada de seres alienígenas em nosso planeta! Por conta disso eu aparecia no jornal, era apontada nas ruas, perdia o homem da minha vida (Que homem? Só em sonho mesmo) Ah! E tinha também um homem assustador vestido de preto com uma capa esvoaçante e milhões de corvos em volta dele... (Péra aí! Mas o que isso tinha haver com os ET's?? I don't know!)

sábado, 3 de outubro de 2009

"Sinto muito mas não vou medir palavras
Não se assuste com as verdades que eu disser
Quem não percebeu a dor do meu silêncio
Não conhece o coração de uma mulher"


Lindíssima canção! Composição de Erasmo Carlos, interpretada por Simone. Ouvi agora na novela das oito. Aliás, se tem algo perfeito em Viver a Vida, além do Mateus Solano (suspiros), é a trilha sonora.

Talvez o último desejo - Rachel de Queiroz

Pergunta-me com muita seriedade uma moça jornalista qual é o meu maior desejo para o ano de 1950. E a resposta natural é dizer-lhe que desejo muita paz, prosperidade pública e particular para todos, saúde e dinheiro aqui em casa. Que mais há para dizer?
Mas a verdade, a verdade verdadeira que eu falar não posso, aquilo que representa o real desejo do meu coração, seria abrir os braços para o mundo, olhar para ele bem de frente e lhe dizer na cara: Te dana!
Sim te dana, mundo velho. Ao planeta com todos os seus homens e bichos, ao continente, ao país, ao Estado, à cidade, à população, aos parentes, amigos e conhecidos: danem-se! Danem-se que eu não ligo, vou pra longe me esquecer de tudo, vou a Pasárgada ou a qualquer outro lugar, vou-me embora, mudo de nome e paradeiro, quero ver quem é que me acha.
Isso que eu queria. Chegar junto do homem que eu amo e dizer para ele: Te dana, meu bem! Dora em vante pode fazer o que entender, pode ir, pode voltar, pode pagar dançarinas, pode fazer serenatas, rolar de borco pelas calçadas, pode jogar futebol, entrar na linha de Quimbanda, pode amar e desamar, pode tudo, que eu não ligo!
Chegar junto ao respeitável público e comunicar-lhe: Danai-vos, respeitável público. Acabou-se a adulação, não me importo mais com as vossas reações, do que gostais e do que não gostais; nutro a maior indiferença pelos vossos apupos e os vossos aplausos e sou incapaz de estirar um dedo para acariciar os vossos sentimentos. Ide baixar noutro centro, respeitável público, e não amoleis o escriba que de vós se libertou!
Chegar junto da pátria e dizer o mesmo: o doce, o suavíssimo, o libérrimo te dana. Que me importo contigo, pátria? Que cresças ou aumentes, que sofras de inundação ou de seca, que vendas café ou compres ervilhas de lata, que simules eleições ou engulas golpes? Elege quem tu quiseres, o voto é teu, o lombo é teu. Queres de novo a espora e o chicote do peão gordo que se fez teu ginete? Ou queres o manhoso mineiro ou o paulista de olho fundo? Escolhe à vontade - que me importa o comandante se o navio não é meu? A casa é tua, serve-te, pátria, que pátria não tenho mais.
Dizer te dana ao dinheiro, ao bom nome, ao respeito, à amizade e ao amor. Desprezar parentela, irmãos, tios, primos e cunhados, desprezar o sangue e os laços afins, me sentir como filho de oco de pau, sem compromissos nem afetos.
Me deitar numa rede branca armada debaixo da jaqueira, ficar balançando devagar para espantar o calor, roer castanha de caju confeitada sem receio de engordar, e ouvir na vitrolinha portátil todos os discos de Noel Rosa, com Araci e Marília Batista. Depois abrir sobre o rosto o último romance policial de Agatha Christie e dormir docemente ao mormaço.

Mas não faço. Queria tanto, mas não faço. O inquieto coração que ama e se assusta e se acha responsável pelo céu e pela terra, o insolente coração não deixa. De que serve, pois, aspirar à liberdade? O miserável coração nasceu cativo e só no cativeiro pode viver. O que ele deseja é mesmo servidão e intranqüilidade: quer reverenciar, quer ajudar, quer vigiar, quer se romper todo. Tem que espreitar os desejos do amado, e lhe fazer as quatro vontades, e atormentá-lo com cuidados e bendizer os seus caprichos; e dessa submissão e cegueira tira a sua única felicidade.
Tem que cuidar do mundo e vigiar o mundo, e gritar os seus brados de alarme que ninguém escuta e chorar com antecedência as desgraças previsíveis e carpir junto com os demais as desgraças acontecidas; não que o mundo lhe agradeça nem saiba sequer que esse estúpido coração existe. Mas essa é a outra servidão do amor em que ele se compraz - o misterioso sentimento de fraternidade que não acha nenhuma China demasiado longe, nenhum negro demasiado negro, nenhum ente demasiado estranho para o seu lado sentir e gemer e se saber seu irmão.
E tem o pai morto e a mãe viva, tão poderosos ambos, cada um na sua solidão estranha, tão longe dos nossos braços.
E tem a pátria que é coisa que ninguém explica, e tem o Ceará, valha-me Nossa Senhora, tem o velho pedaço de chão sertanejo que é meu, pois meu pai o deixou para mim como o seu pai já lho deixara e várias gerações antes de nós, passaram assim de pai a filho.
E tem a casa feita pela nossa mão, toda caiada de branco e com janelas azuis, tem os cachorros e as roseiras.
E tem o sangue que é mais grosso que a água e ata laços que ninguém desata, e não adianta pensar nem dizer que o sangue não importa, porque importa mesmo. E tem os amigos que são os irmãos adotivos, tão amados uns quanto os outros.
E tem o respeitável público que há vinte anos nos atura e lê, e em geral entende e aceita, e escreve e pede providências e colabora no que pode. E tem que se ganhar o dinheiro, e tem que se pagar imposto para possuir a terra e a casa e os bichos e as plantas; e tem que se cumprir os horários, e aceitar o trabalho, e cuidar da comida e da cama. E há que se ter medo dos soldados, e respeito pela autoridade, e paciência em dia de eleição. Há que ter coragem para continuar vivendo, tem que se pensar no dia de amanhã, embora uma coisa obscura nos diga teimosamente lá dentro que o dia de amanhã, se a gente o deixasse em paz, se cuidaria sozinho, tal como o de ontem se cuidou.
E assim, em vez da bela liberdade, da solidão e da música, a triste alma tem mesmo é que se debater nos cuidados, vigiar e amar, e acompanhar medrosa e impotente a loucura geral, o suicídio geral. E adular o público e os amigos e mentir sempre que for preciso e jamais se dedicar a si própria e aos seus desejos secretos.
Prisão de sete portas, cada uma com sete fechaduras, trancadas com sete chaves, por que lutar contra as tuas grades?
O único desabafo é descobrir o mísero coração dentro do peito, sacudi-lo um pouco e botar na boca toda a amargura do cativeiro sem remédio, antes de o apostrofar: Te dana, coração, te dana!

Texto extraído do livro: Um alpendre, uma rede, um açude - 100 crônicas escolhidas. Rachel de Queiroz. Editora Siciliano. São Paulo. 1993 p. 101-103.